Projeto
Programa de residência artística apresenta primeiros frutos
Exposição de obras dos artistas Elias Maroso e Helô Sanvoy se inicia nesta quarta-feira (17) no Malg
Fotos: Carlos Queiroz - DP - Raquel Vallego (E), Ana Avelar, Ana Roman e Lauer Santos integraram a comissão curatorial
O programa Trânsitos Excêntricos, do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg/UFPel) mostra, a partir desta quarta-feira (17), seu primeiro fruto, a exposição dos artistas Elias Maroso e Helô Sanvoy. A inauguração é às 18h, na sede do Malg, praça Sete de Julho, 180. Antecedendo a abertura da mostra, ocorre às 17h, uma conversa sobre a proposta de residência artística com os curadores e equipe do projeto, no Centro de Integração do Mercosul, rua Andrade Neves, 1.529. A realização é da Sociedade Amigos do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Samalg), do Laboratório de Curadoria do Malg (LACMalg) e da Academia de Curadoria da Universidade de Brasília (UnB), com financiamento do Pró-Cultura RS FAC _ Fundo de Apoio à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.
A exposição apresenta obras dos artistas que integraram o primeiro ciclo da proposta de residência artística. O projeto evidenciou o processo de curadoria, ao unir dois grupos de curadores oriundos de diferentes partes do país.
O projeto de residência artística começou a ser gestado durante a pandemia, quando integrantes do Laboratório de Curadoria do Malg (LACMalg) buscaram a parceria da Academia de Curadoria (AdC), coordenado pela professora e artista Ana Avelar, da Universidade de Brasília, para que juntos propusessem ações artístico-museais-pedagógicas.
Como estavam acontecendo muitas residências remotas, em função da pandemia, a primeira ideia foi seguir por esse caminho. Porém a falta de recursos se tornou um impeditivo. "Então conseguimos inscrever o projeto, pela Samalg, no Procultura da Secretaria de Estado da Cultura, através do FAC Artes Visuais, propondo as residências", relembra o diretor do Malg, professor Lauer Santos.
Aprovado no ano passado, o edital proposto pelo projeto previu a participação de quatro artistas na residência (um nome nacional e outros representando Pelotas e o Estado, além de alguém de fora do Brasil. O trabalho foi desenvolvido de forma híbrida, dois artistas presencialmente e dois de forma virtual.
Dois desses participantes foram selecionados por edital e dois foram convidados. Cerca de 60 artistas participaram do processo de seleção, conta Santos. "Quais quatro artistas nos interessam neste momento para olharem individualmente para esta instituição, mas também olhando para as possíveis interlocuções e diálogos que estes artistas poderiam ter?", lembra a curadora Ana Roman, sobre o questionamento enfrentado pelos curadores, durante o processo de escolha.
Os convidados teriam que desenvolver suas pesquisas a partir da temática Imigração. "Chegamos a conclusão que o fluxo de pessoas era um assunto que estava no acervo do Malg, cuja a primeira coleção é fruto de um imigrante/migrante, Leopoldo Gotuzzo. Também pensamos o quanto essa condição de pessoas em fluxo é ainda atual e o quanto a internet fala sobre esse estar em vários lugares. Um assunto que unia todos nós, então resolvemos colocar para os artistas discutirem", fala uma das coordenadoras do projeto a professora Ana Avelar, da Academia de Curadoria. Segundo Ana, os artistas selecionados, de alguma forma convergem suas poéticas também para debaterem o fluxo em diferentes territórios.
Integram a proposta, Elias Maroso (regional), Helô Sanvoy (nacional), que apresentam suas respectivas obras agora, além do canadense Charles Guilbert e de Jessica Porciuncula, de Pelotas, fazendo a representação local. Na prática os artistas do primeiro ciclo, Maroso, que ficou durante 20 dias trabalhando no museu, e o Sanvoy, de forma on-line, começaram o trabalho em abril. "Dividimos a residência em dois ciclos para não ficarem todos juntos", explica o diretor.
Para os curadores é muito complexo lidar com o processo da obra, que surge a partir de um trabalho que está rodeado por incertezas e dúvidas. "É sempre um diálogo, uma convicção que todos nós compartilhamos é que curadoria é em grande parte negociação com instituições, com artistas", diz Ana Avelar.
Conversa com o acervo
Na exposição Maroso apresenta duas obras, uma é inspirada na tela Descanso de balaieiros, de Luiz Moraes Notari, de 1989. Na sua versão o fluxo dos balaieiros dá lugar aos motoboys, como os carregadores de alimentos contemporâneos. Na obra o artista utiliza técnicas de fotografia e desenho.
Em uma segunda obra, Maroso se apoia em desenhos de mãos feitas pelo patrono do Museu para criar uma espécie de telefone sem fio de desenhos. A partir de um desenho próprio, o artista convidou outros a replicarem a informação estética inicial, que, claro, acaba por se transformar completamente ao longo do processo.
Para ambas as obras ele criou uma grafia/marca de forma digitalizada
Por suas vez, Sanvoy traz uma outra proposta a partir de uma escultura da artista Judith Bacci, de 1988, intitulada Mãe preta amamentando menino branco. "O Helô observou um pouco das ausências do acervo do Malg ao procurar quais artistas negros existiam no acervo do Museu. A poética do Helô dialoga com essa questão do próprio corpo dele, ele é performer, ele fala sobre o corpo extenuado, como o dos motoboys do Maroso", explica Ana Roman. "Ele estudou a presença negra nas charqueadas, da realidade dos trabalhadores e com isso ele idealizou os materiais (couro e madeira), porque o trabalho é tanto o video de performance, quanto esse objeto", fala Ana Avelar.
Serviço
O quê: exposição Trânsitos Excêntricos, com os artistas Elias Maroso e Helô Sanvoy
Quando: a partir desta quarta-feira (17), às 18h
Onde: Malg/UFPel, praça Sete de Julho, 180
Visitação: de terça a sábado, das 12h30min às 18h30min
Entrada é gratuita.
Coordenação do programa
Ana Avelar; Lauer dos Santos e Renan Espírito Santo
Curadoria
Ana Roman; Edward Pérez-Gonzáles; Laura Cattani; Rachel Vallego
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